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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Não aperte este botão

"Mas nos deram espelhos, e vimos um mundo doente"
(Renato Russo, Índios)


Uma coisa chamou minha atenção nas últimas semanas. Um tema que não traz impacto direto para Joinville, porém têm um efeito devastador para todos nós.

Falo do vídeo que se perpetuou na internet sobre Belo Monte. Atores, na maioria globais, provocando um 'levante", instigando uma parada imediata na construção da usina hidrelétrica no Pará. Uma obra de grande porte que pretende atender uma demanda nacional - incluindo nós, joinvilenses. O vídeo é impactante, diga-se de passagem, e tem foco: aponta o dedo para o governo. Se propagou como água* nas redes sociais.

Quero ressaltar que não vou entrar na defesa nem tampouco demonizar qualquer "projeto de desenvolvimento", mesmo porque não sou técnica nesse assunto. O que questiono é a ação cega de internautas, de pessoas comuns que, como eu, não dominam o tema. Por isso, um vídeo com tanta gente bacana (escolhidas a dedo pelo forte apelo popular que tem), que fala comigo, que me chama para uma responsabilidade e que ataca diretamente o governo é um estopim para ser propagado virtualmente. É simples. Você recebe um vídeo, se identifica com aqueles personagens, veste a camisa, e dispara para o maior número de contatos possíveis da sua rede virtual. Depois você continua na frente do computador com a sensação de orgulho por ter ajudado a salvar o planeta.

À PROCURA DE RESPOSTAS
Mas qual a sua responsabilidade pela construção de uma usina a ser instalada no meio da Amazônia? Não, não me diga que isso não é um problema seu. Não empurre para um culpado. Precisamos de energia, lógico. Já somos 7 bi no mundo e ninguém quer ficar no apagão (sim, me refiro a "Crise do Apagão" que, para quem não lembra, deixou muita gente de cabelo em pé entre 2001 e 2002, os dois últimos anos da era FHC. Lembrou?). Quando vi o vídeo, dos atores interpretando, e muito bem (ou alguém acha que aquilo foi gravado de improviso, de inteligência socioambiental ou iniciativa pessoal?), um texto forte, direto, com ângulos muito bem editados e produzido por uma megacorporação (talvez a própria Rede Globo camuflada de ONG), pensei comigo: "Tá, eu não sou idiota. É óbvio que não simpatizo com a ideia de uma usina dentro da Amazônia. Mas também não sou massa de manobra de megacorporações. Quais são nossas alternativas?"

E foi na minha inquietação, nas conversas com técnicos no assunto, nas pesquisas, nas frustrações políticas que fui encontrando as respostas sobre nossas alternativas. Nas minhas leituras vi que nem um parque eólico, muito menos solar são compatíveis com o que representa uma represa no Rio Xingu. Nem mais limpa. Por que pelo que sei, um parque eólico, por precisar de vento, costuma ficar no litoral, onde também ficam nossas praias! Ou no alto de serras e montanhas O que é mais limpo? Instalar gigantescos cata-ventos nas areias ou utilizar uma represa de água limpa no meio de uma floresta cheia d'água? 

Queria ver a cara dos atores ao verem alteradas as paisagens paradisíacas das praias da Cidade Maravilhosa, do Jurerê Internacional, da Joaquina, da Jericoacoara e tantas outras praias do nosso litoral. Ou ainda, nos depararmos com tais equipamentos no meio de montanhas e serras. Como se isso não tivesse impacto algum com o meio ambiente também. A energia eólica afeta paisagens com suas torres. Suas enormes hélices podem ameaçar várias espécies de pássaros ou outros animais daquele ecossistema. Ah, também há um certo nível de ruído (de baixa frequencia) que pode incomodar os animais (entre eles, os racionais). Você já imaginou quantos parques eólicos teríamos de ter nessas áreas para gerar energia como a hidrelétrica de Belo Monte? Confesso que não simpatizo com essa alternativa também, pelo menos nessas proporções, pois estamos falando de 11 mil megawatts.

Há outra opção, como a produção de energia solar. Só que iríamos precisar de um área colossal e que não serviria para mais nada. E onde teríamos espaço para produzir tal demanda? Se você é um especialista no assunto, me corrija. São informações que obtive ouvindo os dois lados desse debate, que muito me interessa. Além disso, ouvi de técnicos ambientais que existe variação na quantidade de energia produzida conforme nosso clima (em nenhum lugar do Brasil temos sol 365 dias). E outra: durante a noite também não existe produção alguma nesse espaço, e ainda seria preciso pensar no armazenamento da energia que foi produzida durante o dia. Essas formas de armazenamento são comprovadamente pouco eficientes quando comparadas com uma energia hidrelétrica, por exemplo. Isso sem falar que o índice de energia produzido também é muito mais baixo, comparado com uma hidrelétrica. Incompatível.

Não vou falar de usina nuclear por questões óbvias.

Enfim, minha "ficha caiu" quando li uma entrevista de Célio Bermann, professor da USP e um dos mais respeitados especialistas na área energética do país (segundo a Revista Época, coincidentemente da editora Globo):

"Existe um lado meio trágico da população em geral que é o comodismo: deixa que resolvam por mim. Então, quando você me pergunta sobre alternativas, depende do que a gente está falando. Existem alternativas promissoras deixando de produzir mais mercadorias eletrointensivas. Como também é promissor ter esquemas de financiamento para que o pequeno empresário adquira um painel fotovoltaico (placa que transforma luz solar em energia elétrica) ou use uma tecnologia eólica, por exemplo, para satisfazer as suas necessidades, sem necessariamente ficar ligado a uma grande linha de transmissão, de distribuição, puxando energia não sei de onde (...) É claro que, se continuar desse jeito, se a previsão de aumento da produção das eletrointensivas se concretizar, vai faltar energia elétrica. E há os que dizem: “Ah, mas ele está querendo viver à luz de velas...”. Não, eu estou dizendo que a gente pode reduzir o nosso consumo racionalizando a energia que a gente consome; a gente pode reduzir os hábitos de consumo de energia elétrica, proporcionando que mais gente seja atendida, sem construir uma grande, uma enorme usina hidrelétrica".

Você consegue enxergar sua responsabilidade nisso? Se não, peço que releia o parágrafo anterior.

E O SEU CONSUMO? 
O professor, que é contra a construção da usina, lança desafios quase imperceptíveis na sua lógica. O principal deles: a alteração dos hábitos de consumo. E eu te pergunto: você aí, do outro lado da tela está disposto a isso? Você está disposto a reduzir seu consumo? Racionalizar a energia que consome? Modificar seus hábitos? Educar as próximas gerações para essa árdua tarefa? Não apontar o dedo para um culpado, mas apontar o dedo para você? Na sua entrevista, o professor diz sofrer ao chegar em casa e não ligar o computador para checar seus e-mails. Para ele, isso seria beneficiar-se de uma "comodidade" que a energia elétrica, em particular, nos oferece.

Essa conscientização é perfeita, mas não é real. Pelo menos aqui. E isso não se dará de um dia para o outro. É lógico que defendo a produção de energias renováveis, solar, eólica, biomassa e tantas outras. Acho que, muito lentamente, estamos nos apropriando da sua funcionalidade, mas seu progresso se dará com o tempo. Com conscientização, vontade política, incentivo, necessidade e sobretudo, da potencialidade de cada região. Como está a situação aí no seu Estado sobre energia renovável? Como você interfere nesse desenvolvimento? Quais seus hábitos dentro da sua casa? Você usa aquecedor solar? Seus vizinhos também? E os amigos? E no seu trabalho, como é sua rotina de consumo? Você já viu um empresário utilizar um painel fotovoltaico para economizar energia? Eu admiro profundamente a atitude do professor, mas reconheço que essa disciplina não é tão fácil como parece. Precisamos enraizar essa cultura, e isso leva tempo. O que me deixa indignada é ver pessoas levantando a mão contra uma alternativa que pode (como as outras alternativas) causar impactos, e ao mesmo tempo, essa mesma pessoa consumir absurdamente energia. Como se ela brotasse do chão. Não, ela brota da água também.

É muito fácil criticar, repassar emails, editar vídeos, dizer que o governo está errado! Mas eu acho que a sociedade tem de rever seu conceito de consumo. E não falo só de consumo de energia não. E o consumo do lixo? Os assuntos estão ligados. Não basta cobrar apenas do Poder Público, como se não tivéssemos uma responsabilidade imensurável de dar destino certo ao lixo. Ou melhor, do desperdício e consumo do lixo. Jogar lixo no chão (um chiclete, uma bituca de cigarro, uma lata de cerveja) e sair do mercado cheio de sacolas plásticas, tem a mesma proporção daquele indivíduo que está em casa sozinho com as luzes acesas, TV ligada, usando o computador, ao lado do celular. Ah claro, tudo isso com um refrescante ar condicionado ligado no máximo. Uma hora alguém vai pagar a conta pela irresponsabilidade alheia.

PROGRESSO?
É lamentável, mas infelizmente muitas usinas virão em nome do desperdício que o ser humano insiste em não enxergar. O governo tem culpa? Não vou isentá-lo da sua parte. Historicamente, eu diria! Muita grana, muito discurso, muito desvio, muitos votos, grandes e milagrosas obras etc, etc. Mas o povo! Ah, o povo! Cada vez mais engolido pelo consumismo absurdo e o desperdício de água, de luz, de alimentos, de atitude, de novas ideias, de novos hábitos. Desperdício de voto (porque quando um país elege um Tiririca como deputado mais votado - o quê pode se esperar da política?). Infelizmente pagamos a conta de um povo que quer progresso mas age com retrocesso...

Hoje mesmo vi uma pessoa jogando latinha de refrigerante pelo carro! ALÔ, estou falando de Joinville. Cidade rica, Sul do país. A resposta para isso é a falta de energia, óbvio! Falta de água, claro. Rios e mares cheios de lixo. Animais abandonados e/ou extintos (porque isso, para muitos, é uma questão secundária, sem importância alguma. "Não é comigo"). Mas enquanto o povo não tiver consciência do seu consumo/desperdício e da sua responsabilidade nesse processo, a "modernidade" virá truculenta, patrolando nossas florestas, mares, rios, animais. E quando digo POVO, não falo da probreza, não! Incluo a classe média/alta, que também é grande responsável pelo desperdício de luz, de água, de dinheiro, de cinco carros para uma família de quatro pessoas, uma infinidade de lixo eletrônico jogado em qualquer lugar, compras cada vez menos necessárias.

O que tento dizer com essa indignação toda é que enquanto houver desperdício de luz, haverá usinas (seja ela da forma que for). Enquanto houver desperdício de lixo, haverá impacto ambiental. Temos que parar de reclamar do governo (e reclamar é diferente de fiscalizar, acompanhar, cobrar) e apontar para nossas atitudes.

Meu desencanto com a falta de consciência humana, ajuda a compreender obras como a de Belo Monte (que aliás, já começou e está a todo vapor). Não sou ingênua. Sei que há muitos outros interesses escondidos nesta usina. A política é sorrateira. Tem muita gente interessada em dinheiro, em votos, em desenvolvimento milagroso, em poder, em alianças políticas, em eleições daqui há 10 anos. Por outro lado também há interesses ferozes pela não-construção da usina e o caos que representaria um novo apagão no Brasil.

Enquanto tudo isso gira, nós aqui, pobres mortais, estamos impulsionando essa engrenagem toda cada vez que ligamos um botão.


Suplemento: vídeo ONG Gota d'água


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sonhei com um amigo

Vai tentar definir amigo. Já busquei palavras, teorias, músicas...não traduz o sentimento. Para mim, uma das melhores traduções está mesmo na emoção. Alguém que se identifica tanto, que arrepia.
Não, não precisam palavras. É sentimento puro. Poucas pessoas nos arrepiam - e estou falando de amizade - não é desejo; é admiração, identificação. Aparecem nas nossas vidas, compartilham alguns momentos e pronto: deixam suas essências. Seja numa frase, num sorriso ou pensamento...sei lá!
Estou com saudade de alguns amigos. Entre eles, um que se foi muito cedo. Já faz tanto tempo, mas é tão forte sua presença. Por que não esqueço?
Esta noite, sonhei com ele. E não foi a primeira vez. Acordei e sorri. Porque eu sempre sorria com ele mesmo. Não seria diferente. No meu sonho louco (e meus sonhos são sempre loucos) a gente riu junto e conversou sei lá o que, mas era divertido!
Não procuro traduções e teorias para os sonhos, mesmo porque eu nunca lembro deles...mas neste caso - do Daniel - eu lembrei e sorri de novo! Enfim, deu uma sensação de conforto. E amigo que é amigo consegue te confotrar. Mesmo que não esteja tão perto como a gente queria! Taí, talvez seja mais uma definição de amigo - vou anotar isso pra não esquecer...
* Daniel Masiero era baixista da banda Alpha Asian Malaria, de Joinville. Adorava Animaniacs e Operation Ivy. Morreu em 1997 aos 20 anos.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Criança: futuro do país


Independente do resultado que irá desvendar o mistério da recém-nascida jogada no lixo de um banheiro num grande supermercado em Joinville, há de se fazer uma reflexão sobre a violência infantil na cidade e no Brasil. Nesta semana outros dois casos surpreenderam o país. Em plena semana de Páscoa, onde mensagens de solidariedade e carinho são transmitidas quase que automaticamente, uma mulher abandonou um bebê na caçamba de lixo, em São Paulo. A criança foi encontrada ainda com vida e e está numa UTI. Em Carazinho (RS), um recém-nascido, ainda com a placenta e o cordão umbilical, foi abandonado na madrugada de sexta-feira O bebê foi deixado em um terreno baldio durante a madrugada. A criança apresentou quadro de hipotermia e insuficiência respiratória e também está na UTI.

Há menos de um mês, o Brasil ficou chocado com o massacre de Realengo, onde um jovem matou a queima-roupa 11 crianças e adolescentes. O caso, ainda sem explicação, aumenta significativamente os índices de violêcia infantil e e marca um amargo recorde no país.

Os números não param por aí. Segundo dados do diagnóstico realizado pelo Conselho da Criança e do Adolescente de Joinville, 246 casos de violência física contra pessoas de 0 a 17 anos foram registrados no último ano. Somados aos 222 casos de violência psicológica e 97 de violência sexual, temos um resultado que surpreende até os mais leigos no assunto.

É uma triste realidade que a sociedade deve enfrentar com olhos bem abertos. A denúncia é uma ferramenta importante e a execução de ações para punir os agressores deve ser realizada com mais responsabilidade. A oferta de políticas públicas educacionais para famílias também deve ser firmada com mais rigor pelo Poder Público. São gestos de carinho para as crianças que precisam contar, definitivamente, com seus direitos garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Videozinho Rio 40° - by Eduardo

Imagens e vídeos capturados pelas lentes de Eduardo e Fabiana durante nossa primeira viagem juntos ao Rio de Janeiro, em 2009. Inesquecível. Tem salto de asa delta - volta no Morro da Rocinha - passeio pelo calçadão de Itapema - Candelária - Cristo Redentor - bondinho de Santa Tereza e happy hour no centro nervoso da capital fluminense. A abertura começa com Renan, o típico menino do Rio que quebrou todos os meus pre-conceitos dessa cidade que realmente é maravilhosa. Vou escrever um post só sobre o Renan em breve. Viva o Rio!